domingo, 18 de março de 2012

O conluio contábil foi descoberto

Desde o final da década de 70, os maiores nomes da contabilidade de língua portuguesa, eram contra o esquema de produção de normas, por inúmeros fatores.

No Brasil, o prof. Antonio Lopes de Sá, se colocava contra, não às normas, todavia, ao processo, primeiro mantido por uma instituição bancada por empresa grande de auditoria, segundo, pela forma a qual as normas viam à tona, e depois, pela condição de qualidade das mesmas regras.

Em Portugal, o prof. Rogério Fernandes Ferreira era igualmente contra o processo tal qual via sendo administrado, porque dizia que não havia qualidade nas mesmas letras; inclusive, por várias ocasiões, e durante a sua vida, seus artigos, e trabalhos, eram com o interesse de corrigir as mazelas normativas.



O prof. Lopes de Sá usava também o argumento com base na própria denúncia do Senado americano, de que as normas, ou os princípios americanos (os que embasam o do IASB), foram taxados como “imprestáveis” ou “porcarias”, na intenção de se fazer a informação contábil fidedigna.


O interessante é que o Senado americano tinha colocado em seu relatório que algumas das principais entidades governamentais, as corporações de auditoria, seus clientes (grandes empresas), e as entidades da profissão, faziam os acordos com a intenção de produzir as normas de contabilidade.

Mas, o mestre mineiro dizia existir uma armação entre as multinacionais de auditoria, ampliando o esquema. Assim, as normas atingiam ao interesse para ludibriar investidores e corromper balanços para ganância de poucos.

Agora nos vem a notícia publicada no importante Jornal Netlegis (no dia 22 de novembro 2011), escrita por um dos colunistas da Bloomberg, Jonathan Weil, dizendo que a Olympus fora alvo de fraudes seguidas, acobertadas por grandes firmas de auditoria.

Em questão da notícia, foi dito que a antiga Artur Andersen (uma daquelas denunciadas pelo Senado Americano), mantinha a auditoria até a década de 90, depois vindo a ser substituída pela KPMG (a qual possui vários membros na instituição de normas internacionais, e que banca o mesmo instituto).

A KPMG não encontrou nenhuma falha informativa, vindo a ser substituída pela Ernest e Young, que também não fez nenhum parecer com ressalva.

Ele explica assim na notícia: “A auditoria da Olympus na década de 1990 era a afiliada japonesa da Arthur Andersen, à época uma das chamadas “Cinco Grandes” firmas de contabilidade. Depois que a Andersen entrou em colapso em 2002, a KPMG adquiriu a sua operação(...) A KPMG permaneceu como auditora até 2009. A Olympus passou a suar os serviços da Ernst & Young no fim daquele ano”.

Depois conta que: “O “Financial Times” informou no mês passado que A KPMG EFETIVAMENTE LEVANTOU EM DETERMINADO MOMENTO ALGUM QUESTIONAMENTO SOBRE A CONTABILIDADE DA OLYMPUS. NENHUMA DIVERGÊNCIA ENTRE A KPMG E A OLYMPUS FOI DIVULGADA PUBLICAMENTE”.

 E qual seria a realidade disso tudo? A mesma empresa contabilizava abertamente, prejuízos como se fossem ativos seus, sem nenhuma ressalva da parte dos seus auditores.

Portanto, três das cinco grandes firmas de auditoria não descobriram fraudes em balanço, este que era manipulado abertamente.

Depois o mesmo jornalista conta sobre o colapso da MF Global Holding, ocasionado por meio de compras de ativos da Refco em 2005.

 O jornalista conta que outra grande firma de auditoria fizera o serviço e não percebeu nada de errado nos “controles internos”: “A PricewaterhouseCoopers, auditoria externa da MF Global, DISSE EM MAIO , QUE OS CONTROLES MF ESTAVAM EM ORDEM, E QUE TUDO ESTAVA BEM”.

O mesmo autor coloca em questão a qualidade do serviço: “Se essas afirmações estavam corretas é algo agora em questão. Mais de uma semana após a MF ter pedido concordata, HÁ AINDA CERCA DE US$ 600 MILHÕES DE CLIENTES DESAPARECIDOS SEM CAUSA DEFINIDA”. Uma quebra de empresa por “clientes desaparecidos” (ativos podres, que estavam no balanço) que passou pelo parecer de outra grande firma de auditoria. Mas, não acabou. Ele conta outro escândalo recente: “no mês passado, houve a implosão do Dexia, gigantesco banco franco-belga que recebeu um socorro do governo para evitar seu colapso. Em março, o Dexia recebeu um parecer positivo da afiliada belga da Deloitte & Touche. O MERCADO PERCEBEU QUE SEU BALANÇO ERA UMA FARSA” O jornalista que fez a denúncia, portanto, disse que há sensivelmente a perda da confiança na qualidade das grandes firmas de auditoria. Ele diz: “SÃO TANTAS AS GRANDES COMPANHIAS QUE SOFRERAM COLAPSOS APÓS TEREM SUA CONTABILIDADE APROVADA PELAS QUATRO GRANDES FIRMAS DE AUDITORIA QUE MUITA GENTE CONSIDERA SEUS PARECERES UMA PIADA”. Não que toda auditoria seja incorreta, ou que as mesmas sejam desnecessárias, mas, o que o autor coloca em questão é a qualidade dos pareceres das grandes firmas de auditoria, as mesmas que estão participando claramente do processo normativo, e foram denunciadas há mais de 40 anos atrás. Portanto, as mesmas firmas que praticam as IFRS, e algumas das que mantém patrocinadores no esquema de normas (basta entrar no site do IASB, e da fundação IFRS, para ver os seus membros), são, pois, omissas em erros e fraudes sensíveis de balanços. O que fora denunciado antigamente (se repetindo hoje), é que as grandes firmas de auditoria, junto com as grandes corporações, com base nas normas “compradas”, produziam pareceres para satisfazer aos interesses das grandes empresas, e, portanto, não emitiam nada contrário ao que pudesse desfavorecer a imagem dos seus clientes. Em resumo, havia um acordo ilícito entre as grandes empresas, e as firmas de auditoria, com base nas normas, alvo de manipulação pelos acordos com as instituições normativas, para criar ou aceitar balanços, com interesse de ludibriar os investidores, favorecendo a ganância. Dessa forma tudo leva a crer, que aquilo que fora denunciado como um esquema de normas, para produzir balanços a “clientes” fora destacado como real. O conluio foi praticamente descoberto por este jornalista, o que garante dizer que as opiniões dos professores Rogério Ferreira, e principalmente, as de Lopes de Sá, estavam corretas. Não há de se desdizer que a opinião técnica das grandes multinacionais de auditoria, que tomam conta do processo normativo estão sendo questionadas no que tange a sua qualidade. Normas tal como são colocadas hoje, infelizmente, não são produtos da técnica apurada, e da teoria contábil, mas, do acordo, dos esquemas, entre as grandes empresas de auditoria, e os institutos diversos de contabilidade. Não se pode acreditar nestes produtos sem respaldo científico, pois, é efeito dos conluios, e não da ciência contábil. Os meios de comunicação já estão descobrindo – coisa que muitos dos membros da classe tampam os ouvidos e os olhos – que há uma espécie de defesa das fraudes, com interesses econômicos, por parte das grandes firmas de auditoria, as mesmas que estão com membros seus, ou ex-filiados, nos processos de produção das normas internacionais (IFRS). Podemos depois disso tudo acreditar que a IFRS é realmente o produto do maior nível técnico de contabilidade? O mesmo nível que fez as grandes firmas atestaram balanços verdadeiros que eram falsos? E que conseqüentemente, produzem e participam do processo normativo? O que concluir disso tudo? É uma questão a se responder, porque gente que não é da área contábil já percebeu e desarmou o castelo de cartas, o conluio contábil foi descoberto obviamente, e os seus efeitos aparecerão continuamente, até que percebamos que o que estamos aceitando, não é de contabilidade científica infelizmente. 

Prof. Rodrigo Antonio Chaves da Silva Neopatrimonialista, Acadêmico das Faculdades Integradas de Caratinga, e ganhador do prêmio Internacional Rogério Fernandes Ferreira
Fonte: Netlegis

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